A palavra masturbação, em pleno século XXI, ainda causa muito desconforto. Isto ocorre em função dos vários mitos construídos ao longo do tempo em relação a esta palavra ou comportamento (cria espinhas, cresce as mamas, dá tuberculose, enlouquece, nasce pelo nas mãos etc). Outra causa do desconforto que a palavra provoca vem de nossa tradição religiosa em que tocar o próprio corpo em busca do prazer é sinônimo de pecado, logo merecedor de castigo. Ainda contribui para olhá-la de viés o desconhecimento da função que ela desempenha no desenvolvimento da vida sexual.
Toques na região genital acontece desde o útero materno. Exames de auto-imagem do útero materno têm demonstrado isso. Até mesmo porque desde bebê o ser humano, ao explorar o seu corpo com as mãos, se depara com zonas corporais que geram sensações agradáveis. Quando isso acontece, é normal que o bebê manipule com mais frequência essas áreas. Inicia pela boca e, depois, as áreas genitais. No menino, a reação à manipulação da área genital é evidente com a ereção do pênis. Na menina, a reação é menos evidente uma vez que seu órgão genital é menos aparente que o do menino. Cabe esclarecer que a criança ainda não tem a noção do que vem a ser sexo. Logo, responde e repete no seu corpo os comportamentos que lhe proporcionam sensações de prazer. As intervenções equivocadas dos adultos ante esses comportamentos infantis é que sexualiza uma conduta natural de descoberta do próprio corpo. O sexo, o feio, o pecado, o sujo, o imoral, está na cabeça do adulto, não na cabeça da criança. É exatamente nessa fase que os pais conseguem transformar algo natural em algo antinatural, podendo prejudicar o desenvolvimento sexual de seus filhos e filhas.
Na adolescência, o corpo humano é invadido por uma enxurrada de hormônios sexuais e desperta o desejo pelo sexo. Culturalmente, o indivíduo vem sendo influenciado pelo comportamento sexual da sua comunidade, que se inicia dentro da própria família. Nesta fase da vida, a exploração do corpo – autoerotismo ou masturbação – também tem a função de autoconhecimento. Se antes a manipulação do corpo era guiada pelas sensações prazerosas, sem intenção consciente, agora o indivíduo se toca em busca do prazer, de descobrir-se enquanto recebedor e dador (existe essa palavra?) de prazer. A iniciação sexual e a descoberta do prazer erótico dos adolescentes começam, normalmente, pela exploração do próprio corpo.
Muitas vezes fazem uso de material pornográfico para alimentar suas fantasias. A pornografia aparece nessa fase como curiosidade, como recurso de busca do prazer, com grande potencial para causar dependência. Na atualidade a internet possibilita acesso a um mundo diversificado desses materiais: literatura, quadrinhos, desenhos animados e, os mais consumidos, filmes pornôs. Qual o problema que se apresenta com o uso da pornografia? A pornografia constitui-se em um problema quando o seu uso passa a ser descontrolado e único, ou seja, quando a pessoa faz dessa prática a sua única fonte de prazer. Não busca estabelecer relações afetivas com outras pessoas para desenvolver sua sexualidade. Ou então, está tão dependente da pornografia que não consegue sair da fantasia, onde tudo é possível por meio da imaginação, para uma relação real. Muitas vezes, consegue relacionar-se sexualmente com outra pessoa, mas devido a sua dependência aos estímulos fantasiosos da pornografia não apresenta funcionamento sexual adequado, podendo desenvolver disfunções sexuais tais como ejaculação precoce, dificuldade de ter ou manter uma ereção, ejaculação retardada, excitação insuficiente e anorgasmia (falta de orgasmo).
Por outro lado, a pornografia pode ser utilizada terapeuticamente, de forma estratégica e bem orientada, como um instrumento para o tratamento de pessoas com falta de desejo, por exemplo. Esta disfunção caracteriza-se por uma insuficiente vontade de fazer sexo, ou de ter pensamentos e/ou fantasias eróticas, o que dificulta o interesse pela atividade sexual. Com a ajuda de material erótico, entre eles a pornografia, e o autoerotismo é possível ir despertando o interesse pelo sexo.
Engana-se quem pensa que a masturbação é prática apenas de adolescentes em suas descobertas eróticas. Também é prática na população adulta de ambos os sexos. Sim, de ambos os sexos. Pesquisas apontam que as mulheres cada vez mais estão se descobrindo sexualmente por meio da masturbação. A cultura, a informação, o conhecimento e a emancipação das mulheres que vem de longa data capitaneada pelos movimentos feministas, são as responsáveis por essa libertação.
Concluindo, a masturbação é uma importante aliada na busca pelo conhecimento do próprio corpo e do prazer (autoerotismo), não se constituindo como algo feio, pecaminoso ou que afeta a sanidade das pessoas. Por outro lado, pode se constituir em um grande problema sexual quando se torna a única e exclusiva fonte de prazer. Considerada do ponto de vista terapêutico, pode ser utilizada como instrumento para auxiliar na superação de algumas disfunções sexuais.